
Elaborar um PSCIP é mais do que desenhar a localização de extintores. É uma análise completa dos riscos de uma edificação para projetar um conjunto de sistemas que garantam a evacuação segura das pessoas e o combate eficaz ao fogo.
Fase 0: Preparação e Coleta de Dados (O Alicerce)
Antes de qualquer traço, o trabalho começa com a coleta de informações essenciais. Sem esta base, todo o resto pode estar errado.
- Obtenha os Projetos Arquitetônicos: Você precisará do projeto de arquitetura completo e atualizado do imóvel, incluindo:
- Plantas baixas de todos os pavimentos.
- Cortes longitudinal e transversal para entender a altura e os desníveis.
- Planta de situação e localização para analisar os acessos e a vizinhança.
- Defina a Ocupação/Uso: Qual será a atividade principal da edificação? A resposta a esta pergunta é o ponto de partida para tudo.
- Será um prédio residencial? Um escritório? Uma escola? Uma indústria? Um depósito? Um hospital? Cada uso tem riscos e exigências completamente diferentes.
- Estude a Legislação Local: As regras são definidas pelo Corpo de Bombeiros do seu Estado. No DF é o CBMDF, em São Paulo o CBPMESP, e assim por diante. Baixe e estude as Normas Técnicas (NTs) ou Instruções Técnicas (ITs) aplicáveis. Elas são o seu manual de regras.
Fase 1: Concepção e Classificação da Edificação (O Diagnóstico)
Com as informações em mãos, começa a análise técnica para definir quais sistemas de segurança serão necessários.
- Classifique a Edificação: Este é o passo mais crucial. Usando a norma do seu estado, você classificará a edificação com base em quatro fatores principais:
- Ocupação/Uso: Residencial, comercial, industrial, etc. (definido na Fase 0).
- Altura: Medida do piso da saída no térreo até o piso do último pavimento habitável.
- Área Construída: A metragem quadrada total.
- Carga de Incêndio: O potencial de fogo do local, medido em MJ/m² (definido pela ocupação, conforme a NT específica, como a NT 02 do CBMDF).
- Determine as Medidas de Segurança Exigidas: Após classificar a edificação, a norma do Corpo de Bombeiros apresentará uma tabela. Essa tabela cruza a sua classificação com uma lista de sistemas de segurança e informa quais são obrigatórios. Os sistemas mais comuns são:
- Saídas de Emergência
- Sinalização de Emergência
- Iluminação de Emergência
- Proteção por Extintores de Incêndio
- Alarme e Detecção de Incêndio
- Hidrantes e Mangotinhos
- Chuveiros Automáticos (Sprinklers)
- Controle de Fumaça
Fase 2: Dimensionamento dos Sistemas (A Engenharia)
Agora que você sabe o que é necessário, é hora de calcular como, quanto e onde.
- Dimensionar Saídas de Emergência: Calcule a largura mínima de corredores, rampas, escadas e portas com base na população estimada do local.
- Dimensionar e Locar os Extintores: Defina o tipo de agente (Água, CO2, Pó ABC), a capacidade extintora mínima (ex: 2-A:20-B) e posicione-os no mapa de forma que ninguém precise percorrer uma distância maior que a permitida pela norma (ex: 20 metros) para alcançar um.
- Dimensionar o Sistema de Hidrantes:
- Calcule o volume da Reserva Técnica de Incêndio (RTI).
- Defina o tipo e a localização da(s) bomba(s) de incêndio, calculando a pressão e a vazão necessárias.
- Trace o percurso da tubulação e defina seu diâmetro.
- Posicione os hidrantes para garantir que todo o andar seja coberto pelo alcance das mangueiras (geralmente 30 metros).
- Projetar Alarme, Iluminação e Sinalização: Posicione as botoeiras de alarme, as luminárias de emergência (acima das portas, nas escadas) e as placas de sinalização (indicando rotas de fuga e a localização dos equipamentos) em pontos estratégicos.
Fase 3: Elaboração das Peças Gráficas (O Desenho Técnico)
Todo o dimensionamento da Fase 2 precisa ser traduzido em desenhos técnicos claros e padronizados.
- Crie a Prancha (Folha do Projeto): O projeto deve conter, no mínimo:
- Simbologia/Legenda: O desenho de cada equipamento e o que ele significa.
- Plantas Baixas: Mostrando a localização de todos os equipamentos (extintores, hidrantes, alarmes, luzes, placas), o traçado das tubulações e as rotas de fuga.
- Isométrico do Sistema Hidráulico: Um desenho 3D simplificado mostrando toda a tubulação de hidrantes ou sprinklers.
- Detalhes: Desenhos ampliados da casa de bombas, do hidrante de recalque, da fixação dos equipamentos, etc.
Fase 4: Montagem do Processo e Aprovação (A Burocracia)
Com o projeto desenhado, é hora de montar o processo para submeter à análise do Corpo de Bombeiros.
- Reúna a Documentação: Geralmente, o processo inclui:
- As Pranchas do projeto.
- ART (Anotação de Responsabilidade Técnica) ou RRT (Registro de Responsabilidade Técnica) emitida por um engenheiro ou arquiteto habilitado.
- Memorial Descritivo: Um documento de texto detalhando todas as premissas, cálculos e soluções adotadas no projeto.
- Formulários específicos do Corpo de Bombeiros local.
- Protocolo: Dê entrada com o processo no sistema do Corpo de Bombeiros (muitos estados já usam sistemas online).
- Acompanhe a Análise: Aguarde o parecer de um analista do Corpo de Bombeiros. Ele pode aprovar o projeto diretamente ou emitir uma lista de correções (“comunique-se” ou “notificação”). Corrija o que foi solicitado e submeta novamente.
Fase 5: Execução e Vistoria Final (Da Teoria à Prática)
- Execução da Obra: O sistema deve ser instalado EXATAMENTE conforme o projeto aprovado. Qualquer alteração precisa de aprovação prévia.
- Solicitação de Vistoria: Com tudo instalado, solicite a vistoria final do Corpo de Bombeiros.
- Acompanhe a Vistoria: Um bombeiro vistoriador irá ao local para verificar se a instalação corresponde ao projeto e se todos os sistemas estão funcionando (ele testará as bombas, os alarmes, etc.).
- Emissão do AVCB/Habite-se: Se tudo estiver em conformidade, o Corpo de Bombeiros emite o AVCB (Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros), documento que atesta que a edificação está segura.
AVISO IMPORTANTE: Este é um guia informativo. A elaboração de um Projeto de Combate a Incêndio e Pânico é um ato técnico de grande responsabilidade que só pode ser realizado por um profissional habilitado (Engenheiro ou Arquiteto) com registro no CREA ou CAU. A segurança das pessoas depende da expertise e do rigor técnico aplicado em cada uma dessas fases.